O brasileiro deu mais calote no cheque no primeiro semestre deste ano do que no ano passado. Mais de 9,844 milhões de borrachudos foram passados, enquanto 508,82 milhões foram compensados, o que significa que 1,93% do total foi devolvido entre janeiro e junho. Essa porcentagem é a maior desde o primeiro semestre de 2009, quando 2,3% de todos os cheques passados voltaram sem fundos.
Uma pesquisa da empresa de análise de crédito Serasa Experian, divulgada nesta quarta-feira (20), mostra que o brasileiro se endividou mais e não está conseguindo quitar alguns débitos. A boa notícia é que o consumidor está apelando menos a esse meio de pagamento. De janeiro a junho deste ano, circularam 518,66 milhões de cheques (compensados ou não). No mesmo período do ano passado, foram 571 milhões. Desse total visto no primeiro semestre de 2010, 10,5 milhões voltaram (1,87%).
Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa Experian, explica que os números ainda não são tão preocupantes porque o consumidor tem diminuído o uso do cheque. Ele diz que o cartão de crédito, pela facilidade, tem dominado a preferência das compras – e do calote – do consumidor. "O brasileiro tem dado menos cheque porque prefere o cartão de crédito. O cartão permite o pagamento da fatura mínima, e o cheque não. Mas o rotativo é um perigo tanto quanto o calote no cheque."
O cartão é a modalidade de crédito mais cara do mercado, segundo uma pesquisa da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). O rotativo tem juros de 10,69% ao mês (ou 238,30% ao ano). Isso significa que se o cliente tinha uma dívida de R$ 300 no rotativo em junho do ano passado, em maio deste ano ele veria essa conta passar para R$ 1.014,90.
O pré-datado é considerada uma compra à vista, por isso não cobra juros, explica o economista da Serasa. "Se o consumidor tem uma boa educação financeira, ele pode ir para o cartão desde que pague tudo em dia sem usar o rotativo. O mesmo para o cheque. O pré-datado é um ótimo meio de pagamento porque o lojista não paga taxa em cima, mas o problema é a avaliação de risco. Em nenhum lugar do mundo o comércio financia o cliente só olhando identidade. Não existe venda a prazo só com RG."
Mais dívidas
Roraima foi o Estado com o maior percentual de cheques devolvidos (11,87%). São Paulo, por sua vez, foi o que menos deu calote (1,46%). Outros cinco Estados tiveram taxas de devolução de cheques menor do que a média do país (Rio de Janeiro, Paraná, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais).
Entre as regiões, a Norte foi a com maior percentual de devolução de cheques nos seis primeiros meses de 2011 (4,07%). Na outra ponta do ranking está o Sudeste (1,58%).
Almeida diz que a inadimplência do cheque é resultado do maior endividamento do consumidor e do encarecimento do crédito no mercado. O Banco Central tem aumentado os juros da economia para controlar a inflação e segurar o aumento de preços dos bens e serviços do país.
"Nesse momento de juros tão altos e com possibilidade de mais um aumento [da Selic nesta quarta-feira, de 12,25% ao ano para 12,5% ao ano], não é o momento para ficar se endividando. O consumidor tem que comprar com cautela e em prazos menores. Se precisar trocar a geladeira rpoque ela quebrou, faça, mas prefira um prazo mais curto.
Não foi só a inadimplência do pré-datado que cresceu. Uma pesquisa sobre calote feito pela própria Serasa mostrou que, no primeiro semestre, ele ficou 22,3% maior em relação à primeira metade do ano passado. Esse aumento é o maior já visto nesse indicador desde 2002.
As dívidas dos brasileiros com o limite da conta no banco, com financeiras, com lojas e com cartões de crédito foram as grandes vilãs. As chamadas dívidas bancárias cresceram 7,5% neste ano na comparação com o ano passado. As não bancárias (que envolvem o comércio em geral e o cartão) aumentaram 76,2% no mesmo período.
O endividamento atinge mais de 6 em cada 10 famílias (64% do total) brasileiras. Segundo uma pesquisa da Fecomercio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) com dados de janeiro a maio, mais de 8,86 milhões de pessoas estão devendo alguma coisa na praça.
Entre janeiro e maio de 2010, esse número estava em 8,4 milhões (ou 61% do total). Isso significa que ao menos 400 mil famílias passaram a atrasar o carnê, a fatura do cartão ou entraram no cheque especial.
Fonte: Hoje em Dia